A solidão e Schopenhauer
Arthur Schopenhauer, aquele mesmo, filósofo (de verdade), autor de “O Mundo como Vontade e Representação” (dois volumes grossos e de excelente leitura, mas que exigem do neófito o conhecimento prévio de… Kant!!), assumiu a solidão como ethos e forma de vida.
Nunca se casou, numa época em que os homens e mulheres quase sempre o faziam formalmente. Teve lá seus casos vários, sem nunca ter se “amarrado” a nenhuma delas. Uma vizinha e senhoria sua, curiando vários desses casos, foi motivo de desentendimento sério com o filósofo. A mulher terminou agredida verbal e fisicamente, tal foi o estado de ânimo de Schopenhauer. Se machucou, processou-o e ele, para sua desventura – e cá venhamos, merecidamente – pagou-lhe uma indenização por anos a fio.
Para ele, a solidão era uma forma de vida da qual nunca ousou abrir mão. Foi, pelos seus escritos e pela forma de vida, acusado de ser “pessimista”. Eu era um deles. Após ler detidamente sua obra (coisa que venho fazendo há anos), descubro que nada de pessimismo ele possui. Na verdade, possui uma lucidez quanto a natureza das relações humanas que, para os que vivem nas sombras do real, parece pessimismo.
Num mundo onde as pessoas parecem estar o tempo todo acompanhadas – seja no trabalho ou na rua, seja em redes sociais que as acompanham 24 horas por dia -, há uma ilusão profunda de nunca se estar só. Muitos chamam isso de solidão na multidão. Schopenhauer concordaria com eles.
Solitários no mais profundo de nossas vidas e misérias nos encontramos. Talvez porque, não estejamos nunca com nós mesmos, pois tememos nos conhecermos de verdade.
Jesus de Nazaré, Sidartha Gautama (o Buda), Mohammed, o Profeta e tantos outros fundadores de religiões passaram por longos períodos de solidão até chegar ao autoconhecimento de si e do mundo.
Nós, filhos dessa Modernidade Líquida apavorantemente imersa em multidões tememos a solidão. Mas esquecemos de olhar dentro de nós e reconhecer o vazio imenso de viver num mundo de superficialidade consumista e de solidão. Afinal, se não servimos para “as necessidades dos outros” permanecemos sós.
Somos boas companhias apenas e na medida em que somos instrumentalizados pelos outros. No final, quando não mais tivermos dinheiro, vigor, alegria, ou seja lá o que mais nos exigem, seremos descartados.
O que sobrará? Apenas a solidão e a verdade schopenhauriana: sempre estivemos sós, apenas nunca reconhecemos isso.